
Um homem amava perdidamente uma mulher, mesmo não sendo correspondido, apesar de saber que jamais ela o amaria, ainda que admitisse que o amor é muitas vezes um veneno capaz de consumir-nos. Amou-a anos a fio até começar a esquecer-se de amar, porque tudo na vida esquece e cai, como caem (desfeitas em pó) as flores muito belas que nos ofuscam.
Um dia, o homem voltou a ver a mulher. Estava tão envelhecida e distante do rosto com que sonhara interminavelmente nas suas noites da juventude que não pôde deixar de sentir-se fascinado: para se libertar do sofrimento, ele antigamente punha-se a imaginá-la velha e feia. Agora, por piedade, esforçava por recordar-se da sua beleza aos vinte anos.