BIOGRAFIA

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Escritor Português João Ricardo Lopes
Crédito fotográfico: Junta da União de Freguesias de Fânzeres e S. Pedro da Cova

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João Ricardo Lopes (n. 1977) integra a geração de escritores portugueses, cuja estreia teve lugar no novo milénio. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tendo sido bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian entre 1996 e 1999. Pós-graduou-se em Teoria da Literatura pelo Instituto de Línguas e Ciências Humanas, na Universidade do Minho.

Leciona as disciplinas de Português e de Literatura Portuguesa no ensino básico e secundário, tendo sido docente de Literatura Infantojuvenil na Escola Superior de Educação do Porto e no Instituto de Estudos Superiores de Fafe.

Publicou em 2001 a obra A Pedra Que Chora Como Palavras, galardoada com o Prémio Revelação de Poesia Ary dos Santos. No mesmo ano venceu o Prémio Nacional da Vila de Fânzeres com o livro Além Do Dia Hoje.

Numa análise a esta poesia inicial, a Professora Maria de Fátima Saldanha sublinhou:

«O leitor desta poesia vê-se frequentado pela surpresa dos limites interpretativos, aliciado a pulverizar a barreira do não-entendimento, a vencer por si a resistência das leituras refractadas, devendo incorporar novos significados do mundo e novas relações intrínsecas ao homem e entre os homens. Nenhuma evocação é tão expressiva neste território como a própria “palavra” escavada no silêncio e lançada como cura contra a hemorragia ancestral, permita-se-me a imagem, que é a fuga do tempo através do ser existente. Este, aliás, um dos tópicos mais reiterados, “leitmotiv” fundamental de poemas onde a perenidade e a efemeridade se entrechocam num combate devastador para o ser que dele depende (…).»

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Em 2002, foi editado o seu terceiro livro, Contra o Esquecimento das Mãos. Sobre ele dissertou o poeta moçambicano Sebastião Monteiro:

«De uma inovação singular, João Ricardo Lopes apresenta-se como um poeta do futuro, com uma linguagem profundamente penetrante e um estilo que, sem recorrer ao da poesia arcaica (a chamada clássica), se apresenta moderno e erudito com belas imagens poéticas o que nos permite antever um poeta de labor estético prometedor.

Com contra o esquecimento das mãos estamos plenamente com João Ricardo Lopes, um homem/poeta que desta vez (mais uma vez) põe a sua sensibilidade criadora ao alcance do leitor e mobiliza a sua visão ao testemunho da difícil arte de existir.»

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Foi incluído na seleção de novíssimos poetas portugueses, na coletânea Anos 90 e Agora, das Quasi Edições, publicada em 2005, segundo a organização de Jorge Reis-Sá.

Também em 2005 teve a sua primeira tradução, para servo-croata, por Tatjana Tarbuk, integrando um conjunto de dezassete poetas portugueses dados a conhecer no separador Nova Portugalska Poezija : [Aantologija] da revista “Europski Glasnik” da Društvo Hrvatskih Književnika.

No mesmo ano, publicou Dias Desiguais, o seu quarto poemário. Catarina Nunes anotou acerca dele:

«Em dias desiguais somos interpelados pela brevidade e sinceridade dos versos, na emotiva e sempre renovada forma de abordar ou olhar o dia-a-dia, ou, diria mesmo, o poema-a-poema, num alude expressivo que nos impele e comove à leitura. Deste modo, é através desse olhar que imprime a não existência de repouso absoluto, que significa que o poeta não atribui aos dias uma posição plena e perfeita, demonstrando uma ânsia pelo entendimento da ordem subjacente no mundo. Porque sendo o poeta quem pergunta, sabe que não é dele o mundo, mas cabe a ele localizar-se a si e aos outros pelo seu pensamento.»

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Em 2007 reuniu e publicou o seu primeiro volume de crónicas, intitulado Dos Maus e Bons Pecados, sobre o qual dissertou o escritor Cláudio Lima:

«(…) iniciei a leitura destas crónicas munido de circunspecta dúvida metódica e que cheguei à última com a satisfação plena e limpa de quem usufruiu horas e páginas de inegável e inequívoca qualidade, quer no aspecto meramente formal — uma escrita tersa e escorreita — quer, sobretudo, na multiplicidade, oportunidade e argúcia dos temas e problemas abordados. Mesmo tomando em conta a natural suspeição que nestes casos o elogio suscita, não me coíbo de vaticinar ao jovem autor um promissor percurso, queira ele manter acesa a chama que o anima e evitar entusiasmos fáceis de ruidosas consagrações. Mais do que uma promessa, esta obra confere ao cronista o estatuto de confirmado, não tendo eu engulhos em considerar estes textos na linha do que de melhor no género vão escrevendo Lobo Antunes, Mário Cláudio, Baptista Bastos ou Fernando Venâncio e escreveram os infelizmente já desaparecidos Alexandre O’ Neill, Cardoso Pires ou Eduardo Prado Coelho.»

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No ano de 2008, o poeta e tradutor Jesús Losada verteu para língua castelhana um poema do autor, integrado no volume 9 de 9. Poesía Actual Portuguesa, editado pelo Centro de Estudios Literarios y de Arte de Castilla y León (Celya).

Assinalando a primeira década da sua carreira literária, publicou Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections, obra bilingue, traduzida por Bernarda Esteves. Victor Oliveira Mateus sublinhou o seguinte:

«(…) este relacionar que adquire mesmo foros de miscigenação, é, no meu entender, um dos pontos altos da voz poética de João Ricardo Lopes: viver é estar num palco de múltiplos cenários, viver é representar dados papéis repletos de conflitos (não só inter-papéis, mas também intrapapel!), viver é esta incessante procura de um Equilíbrio Instável (…), equilíbrio entre o dentro e o fora de nós, mas viver é, acima de tudo, a lucidez e a fidelidade: a nós próprios, aos que nos amam ( porque no esboroado palco do hoje já só esses contam!), ao indizível milagre de estarmos vivos neste espaço que nos foi concedido e de que urge cuidar.»

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Em 2018, editou O Moscardo e Outras Histórias, volume de 86 contos de pendor humorístico e satírico, nos quais o autor ilustra o absurdo da condição humana, com alusões a diversos campos do conhecimento literário, filosófico e científico. No posfácio, Paula Morais assinala:

«(…) estes contos presenteiam o leitor com uma visão crítica e reflexiva da existência humana, como se fossem fotogramas, quadros, telas vivas que o instigam a uma autorreflexão contínua, a indagar e a exorcizar o seu próprio quotidiano.

(…) a solidão do leitor rapidamente é esbatida pela imersão na cultura e história da humanidade que povoam as mais diversas narrativas. Cria-se, deste modo, uma ponte entre o indivíduo e o coletivo, uma aula cultural infindável, por onde passam figuras históricas como Cristo, o imperador Nero, o oficial romano que presenciou a morte de Cristo, Lavoisier, cantoras de ópera como Maria Callas, teorizadores literários como Bakhtine, poetas e escritores (Tranströmer, Edgar Allen Poe, Kafka, Homero, Saramago), compositores como Bach, Rachmaninoff, Donizetti, cineastas como Tarkovski e muitos outros representantes da história mundial. Contudo, mais uma vez, nenhuma dessas figuras ou as suas obras surgem na narrativa para apaziguar as angústias do leitor; tal como a reflexão sobre o ato da escrita e o valor das palavras amplia o zumbido do moscardo já que, afinal, a originalidade de um lapidador de palavras não reside na capacidade para narrar o não dito, mas sim na habilidade para reelaborar o já dito, o já acontecido.»

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Em 2021, assinalando o vigésimo aniversário da sua vida literária, João Ricardo Lopes publicou Eutrapelia, conjunto de 50 poemas, com que o autor apresenta notas de viagens e diálogos com a pintura, música, cinema e literatura. Desta obra foram traduzidos e divulgados em língua castelhana diversos poemas, por Alfredo Pérez Allencart e por Santiago Landero Aguaded. Paula Morais a respeito deste poemário afirma:

«…o leitor é convidado a acompanhar as palavras numa viagem pluridimensional: misto de sensações – ora visuais, ora auditivas, ora táteis, ora olfativas – e de memórias intelectualizadas de situações, espaços, músicas, objetos artísticos e pessoas; num regresso ao universo da infância, ao contacto com a terra e os antepassados numa espécie de reviver pueril e incrédulo do Eu, numa tentativa de resgatar as coisas simples e aparentemente negligenciáveis do esquecimento.»

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Em 2022, com a publicação de Em Nome da Luz, venceu novamente o Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres, acerca da qual José António Gomes/ João Pedro Mésseder escreveu:

«Mas (sem contar com a própria voz poética) passam pessoas, também, nesta escrita, tais como os ciganos – que louvados são por existirem – ou amigos e companheiros doutros tempos, além de figuras humanas queridas, ou ainda de outro tipo de figuras, as quais povoam a pintura (este, aliás, é um livro dum poeta culto, tanto do ponto de vista musical e das artes visuais como do ponto de vista literário). Menciono a pintura, porque «vemos» muitos quadros neste livro, começando por um que funciona quase como paradigma ou, se se preferir, como elemento desencadeador e orientador da leitura: São José Carpinteiro, de Georges de La Tour (…). A mim agrada-me deveras esta poesia serena, rigorosa, buscadora de luz, consciente do ofício do poeta e dialogante com muitas e variadas obras artísticas e literárias, desde logo sinalizadas pelas epígrafes, mas não só (…).»

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No seu percurso literário, o autor foi galardoado com o Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres (em 2001 e em 2022), com o Prémio de Conto Maria Irene Lisboa (2009) e com o Prémio Revelação de Poesia Ary dos Santos/APE (2001).

Foi traduzido para castelhano, francês, inglês, servo-croata e arménio.