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Um jovem humorista romeno tentou sem sucesso, ao longo da noite, divertir uma plateia na capital do seu país. Usou algumas das suas melhores armas, como a sátira inteligente, o burlesco absurdo ou a paródia. Em vão procurou ridicularizar-se a si mesmo, porque a assistência se não manifestava, o que o fulminou.
Decidiu procurar então a ajuda de um bar, onde expôs o sucedido. Um professor de literatura confessou a mesma estupefação. Dias antes lera para a sua turma do primeiro ano cenas hilariantes do Anfitrião, mas ninguém se rira. Como era possível?
Os dois homens saíram juntos. Já na rua viram um velho desdentado a girar a manivela de um realejo. Tinha um chapéu de coco e fizera prender à volta do pescoço uma grande túlipa amarela, iguais às que tinha num cesto à sua frente, porque era um vendedor-pedinte. Balançava-lhe no nariz uma argola dourada e nas pernas uns corsários listrados, demasiados grandes e demasiados largos, sobre os quais vestia uma camisa com enormes colarinhos azuis. Nunca o tinham visto, pelo que a visão do exótico e anacrónico homem, misturada com a cançoneta circense que saía do mecanismo, produziu neles uma gargalhada.
O velho, tomado pela indignação, interrompeu-se para se pôr a insultá-los. Os transeuntes, repletos de indignação também, apoiavam-no. As imprecações pareceram-lhes tão ébrias e tão roufenhas que o riso cresceu. Humorista e professor punham a mão na barriga e limpavam as lágrimas, quando a voz do velho os fez voltar. Foram então agraciados com um penico cheio de urina.
Houve aplausos dos circunstantes. Mas, entre eles, nem um sorriso.
Por momentos, fizeste-me lembrar Um cavalo entra num bar, de David Grossman.
Bem lembrado, Tó Zé! Grande abraço para ti, amigo!