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«Sou feminista» principia deste modo todas as suas palestras, conferências e leituras poéticas Măgira Rumanesca, ficcionista romena, jovem, lésbica, feminista.
Por conta de um misterioso talento comunitário venceu todos os prémios literários do país na última década, tendo atraído a si um grau de conspicuidade raramente ao alcance de escritoras tão novas e audaciosas.
Da cátedra de Estudos Femininos na Universidade de Bucareste ao Prémio da União dos Escritores da Roménia, o seu nome corre em todas as antologias, revistas, Histórias da Literatura Moderna, encontros temáticos, jornadas de luta de escritoras emancipadas, sendo-lhe notória a aversão a homens, heterossexuais e colegas de fala apaziguadora. Escapam as figurinhas masculinas queer dos escassos alunos a quem leciona, levemente aparentadas com o timbre passivo a que deseja votar os filhos de Adão.
«Sou feminista» diz Tatiana Acaresti, vencedora este ano do prémio Femina, também ela professora, romena, lésbica, feminista.
Măgira Rumanesca teceu-lhe veementíssimos encómios públicos, legendados por expressões de militância ruidosa que em nada contribuem para escutarmos a voz peculiar daquela autora, a mais jovem de sempre a receber o galardão da revista francesa.
«Acaresti supera o vazio testicular de séculos de ostentação sementícia machista, negadora do âmago criador da mulher» anotou para um jornal Le Monde Măgira Rumanesca. O ódio das palavras que se seguiram não admitiu uma só vez, em sete parágrafos, o nome da laureada.
O que reputamos como estranho. E, bastante a medo, como desagradável outrossim.
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Nota: A fim de se evitar futuras extrapolações, o autor desta narrativa declara-se antecipadamente desideologizado, apolítico, apartidário, não misógino. Inimputável.
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