
Era um padre jovem. Gostava ainda de recordar as coisas que fizera na aldeia antes de ser ordenado. O pensamento vogava às vezes para a pontezinha sobre o qual contemplava o riacho, a água muito limpa, os alfaiates flutuantes, as algas adormecidas, os pequenos peixes escuros. Gostava sobretudo de apertar em ambas as mãos as bênçãos que se cruzavam no seu caminho: sementes de nêsperas e de tâmaras, bolotas, grandes castanhas vergonteadas, nozes, seixos polidos. Algo profundamente seu lhe inspirava essa ciência da palpação, como se o tato, o desocultar da pele, o ardor dos dedos conjugados, o fizesse compreender melhor os desígnios do Senhor.
Isso mesmo foi o que disse, quando o surpreenderam, ofegante, de olhos fechados, abraçando-a pelas costas, acariciava hipnotizado, com frémito, com volúpia, os belos seios de Irene, a moça que havia semanas o servia na paróquia.