O cemitério

Wilderness, Mikkel Wejdemann
Fotografia de Mikkel Wejdemann

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O cemitério paroquial de Ancohuma, na província boliviana de Larecaja, situa-se a mais de seis mil metros de altitude. Pese os nevões contínuos que se abatem sobre ele a maior parte do ano, aí celebra-se a vida como num campo de girassóis. No lugar onde cada mulher e cada homem da aldeia foram sepultados erguem-se lápides de madeira colorida, pintadas em tons de amarelo vivo, mel, limão ou ocre, com dizeres rememorativos a respeito dos defuntos e não sobre a eternidade ou acerca da dor dos que ficam e que podem ainda contemplá-las:

«Aqui mora Hernández, que gostava de comer bem e cujos peidos enchiam a taberna», «Neste lugar jaz a pequena Emília, que sabia já escrever o nome quando o Pai Celestial a chamou para junto da sua lareira», «Esta é a campa de Eva, mulher de Pablo e depois de Juan Alonso, mãe de tanta filharada como a primeira que veio ao mundo», «Aqui enfiaram os restos mortais de Romero, forasteiro encontrado em Ventanas Rojas com estricnina na boca. Dizem que era um biltre. E era».

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