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Ele e ela sabiam amar-se, até mesmo quando faziam amor.
Estimavam com igual paixão a largueza do mar e o abraço da despedida. Eram-lhes igualmente belas a acutilância de um bom poema e a gargalhada honesta, acesa por uma anedota na rua. Além disso, apreciavam em enorme cumplicidade a chávena de café e um pouco de chocolate amargo, a finura dos lábios da rosa e o cheiro laranjais.
Uma espécie de beatitude nimbava os sonhos de um e de outro. Não eram jovens, longe disso. Todavia, sentiam-se espicaçados pela presença do futuro. E o futuro era neles o mesmo que empilhar um pouco de lenha enxuta para o inverno, ou remendar com agulha e dedal um agasalho ferido pelo tempo. Não desejavam mais do que o pouco e do que o simples.
Uma vez ela voltou-se para ele e sussurrou:
«Se existisse uma só palavra para te explicar o quanto te quero bem!»
Cheio da mesma ternura, ele respondeu:
«Para que precisamos nós de palavras, quando temos o silêncio?».
O silêncio entre os dois era leve, carinhoso, tecido pelo próprio sol. Até mesmo quando não faziam amor.
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