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Elegeram um espantalho para rei da província da Trácia. Todos os nobres depuseram o seu voto no fio da espada e no final da eleição ergueram-na, saudando o rei. Chamava-se Elónio.
O imperador apreciava reis-espantalhos a governar sobre a cabeça dos líderes tribais: é mais fácil domar povos entretidos com rebeliões internas do que refrear revoltas concertadas de nações sabedoras da sua força.
O espantalho, com a coroa entalada no crânio, agradeceu o sufrágio dos nobres e beijou a tabuinha de cera e o anel a remeter à púrpura a Roma.
No fio de cada lâmina estava escrito «Não durarás».
Um inverno se passou. As legiões do Lácio encontraram a cabeça desprendida de Elónio nos idos de março. Tinham-lha tirado aqueles que logo depois ficaram sem ela, a oscilar lá no alto, levemente, na pua das suas cimitarras. Incluindo a do novo monarca-espantalho, cuja autoridade Tibério não reconhecia.
O poder, haveria de escrevê-lo Suetónio, o historiador de Os Doze Césares, é um pequeno vento passageiro, é menos do que uma viração da primavera. É um peido pestilento: acontece e, zás, já se perdeu, balordo, entre as fragrâncias noturnas dos jardins do Palatino e do Capitólio.
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