
Da obra poética de João Ricardo Lopes, dispersa em sete livros e por um grande número de revistas e antologias (em Portugal e no estrangeiro), emerge provavelmente o pequeno volume intitulado Em Nome da Luz, dado à estampa pela Elefante Editores em 2022.
A obra, composta por 40 breves poemas, foi galardoada com o Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres, tendo o júri (formado por José António Gomes / João Pedro Mésseder, José Augusto Nunes Carneiro e Augusta Cosme) valorizado a beleza das imagens, o poder discursivo do eu poético, o vocabulário requintado e a «forte construção do poema» que nele se evidenciam.
José António Gomes, na apresentação do livro, afirmou que «A poesia de João Ricardo Lopes constrói-se a partir de pequenas fulgurações: momentos particulares, cenários mágicos (Assis, Cremona, Roma, sul de Lanzarote, mas também Esposende, as ondas e um farol, uma sala de aula, a velha escola primária da infância…), passagens de filmes, pinturas e peças musicais (Johann Sebastian Bach, Chopin, Schubert…). Mas principalmente constrói-se a partir daquela vibração quase imperceptível das coisas simples que, amiúde, constitui o cerne do poema e que com as palavras do próprio poema se confunde».
Sintetizando desta forma: «Feito de lugares, de tempo e de memória, Em Nome da Luz é, em suma, um belo livro de poesia, caracterizado por um tónus discursivo emanado de uma voz com dicção e acento singulares, dirigindo-se a um tu que é um desdobramento dessa mesma voz. E é belo também pelo rigor e riqueza da linguagem, sendo de realçar certo gosto por vocábulos menos comuns mas certeiramente expressivos. Belo, ainda, pela discreta e serena sageza que dele emana, não imune porém à melancolia, e que atravessa toda a obra. Um livro em que igualmente são de sublinhar a qualidade imagística e, como já foi dito, um sentido forte da construção do poema.»
Paulo Jorge Miranda, na senda de títulos anteriores do autor, enfatizou a «poética do silêncio» que em Em Nome da Luz «é obsidiantemente procurada», enunciando que «Esta grande introspeção que o silêncio traduz para João Ricardo Lopes, sinónima de catarse, de ascese, vem já embrionariamente plasmada em obras anteriores, particularmente no magnífico Eutrapelia (2021)», e decorre de «apelos sucessivos a uma prática diária de limpeza, de decantação, de precisão, de higienização, insinuada mais ou menos explicitamente em poemas inúmeros onde o eu voluntariamente renuncia aos luxos literários para se comprazer com a dignidade do mínimo, mínimo esse que, paradoxalmente, transporta o máximo do ethos poético.»
Para este escritor «o fito desta poética do silêncio de João Ricardo Lopes [é o de] incumbir ao escrito a missão de se anular a si mesmo, de se nadificar no sentido em que Jean-Paul Sartre o aduz, de criar (num processo antecipado de autoapagamento) o milagre da vida e, nele, muito em particular, o parto do poema, mais ou menos como quem efemeramente desenha ou constrói sobre um areal e existe apenas porque existiu. Esse processo, assumido cada vez mais como única via, abre a porta a toda uma ordem do caos: o poeta é aquele que descobre por acaso, aquele que desvenda por acidente, aquele que encontra algo buscando outra coisa.
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Ano de Edição: 2022 | Editora: Elefante Editores | Páginas: 68
