Dias Desiguais

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Dias Desiguais é o quarto livro de João Ricardo Lopes, composto por 56 poemas que parecem refletir a presença tutelar de Wisława Szymborska, como se infere dos versos escolhidos pelo autor para a epígrafe: «Os dias não podem ser repetidos, / não há duas noites iguais, / não há dois beijos parecidos, / não se troca o mesmo olhar.»

Neste volume, que surge organizado em três partes bastante distintas no estilo e nas escolhas temáticas, João Ricardo Lopes reitera a sua preferência pela metapoesia, mas abre a sua escrita ao humor das situações inesperadas do quotidiano, valorizando pequenos objetos e gestos simples, colhidos pela memória e pela forte sensibilidade humanista que não deixa de revelar na descodificação do real. Disso dá conta Pompeu Miguel Martins, no posfácio da obra, onde enfatiza a aparente simplicidade da arte poética do autor: «A recorrência a elementos do quotidiano e da natureza dá-nos conta do quanto se pretende que a poesia circule e transforme o lado interior dos caminhos comuns, às vezes fechados ou que se auto-limitam perante a interpretação poética. Que poesia se encontra num prato quebrado, nuns velhos sapatos, no antes, no durante e no depois das trovoadas, nos cães da rua, nas hospedarias, etc? Toda a poesia. A poesia justificada de modo notável pela expressão “as palavras empoemando”».

Para Catarina Nunes, «O poeta apela justamente para a capacidade de olhar para muito perto das coisas, fazendo-nos reflectir no que há de mais elementar, ao captar as impressões do quotidiano com pormenor. E, como nos dias sobeja a desigualdade, embora não sendo metafísica, esta poesia de contornos inconstantes desemboca, de forma muito íntima, num espaço branco, que é o espaço do despojamento e da simplicidade. Desta forma, os versos realizam a metáfora dos dias, na qual todos os contrários se reúnem no surgir de cada imagem.»

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Ano de Edição: 2005 | Editora: Labirinto | Páginas: 80