Contra o Esquecimento das Mãos

.

Terceiro e o mais volumoso dos poemários de João Ricardo Lopes, Contra o Esquecimento das Mãos coleciona diferentes composições (em verso e prosa poética), nas quais a passagem do tempo é o leitmotiv e o denominador comum do aparato textual.

A obra aparece seccionada em sete «quadros» (integrando cada um 12 poemas): «o lugar de onde viemos», «contra o esquecimento das mãos», «das tardes», «a noite de um homem», «memórias», «pequenas ilhas interiores» e «dos silêncios». A presença simbólica dos números 7 e 12 parece colidir com o sentido existencial dos 84 poemas deste livro, marcados pela consciência da finitude e pelo dever (agónico, impotente) de aceitaçao da morte e das suas imperfeições. Contraditória será, também, a ideia de regressão uterina e de regresso à infância proposta em muitas destas composições poéticas.

Carlos Vaz releva nesta obra, numa outra linha interpretativa, a sugestão visual da sua escrita, codificada num «arquipélago gráfico» enquanto lugar de salvamento do sujeito poético. Este autor sublinha que «Contra o Esquecimento das Mãos é uma obra na qual experimentamos uma outra maneira de estar com o nosso próprio corpo, com o nosso próprio tempo e com a nossa própria escrita. João Ricardo Lopes […] convida-nos a entrar na casa gráfica para compreender a alma de quem lê a de quem escreve como princípios equiparáveis da mesma mecânica do mundo.»

Fortemente simbólico e alegórico, metapoético e inequivocamente experimentalista, este livro ressuda vozes de outros poetas, como as de Omar Khayyam, Jalaladim Rumi, T. S. Eliot, Paul Celan, Herberto Helder, Al Berto ou António Franco Alexandre.

.

Ano de Edição: 2002 | Editora: Labirinto | Páginas: 116